Se você já pensou, algum dia, que por ter uma conta em rede social, poderia dizer
ou postar o que pensa, já que ninguém tem a ver com o que escreve, esse texto é
especialmente para você.
O empoderamento do individuo quanto a transmitir seus pensamentos,
reclamações, opiniões e aquietações por canais, que antes não existiam, atingiu
seu ápice (momentâneo, pois tudo tende a crescer) nos últimos anos.
Está triste? Conte ao Facebook como se sente a espera de alguém para falar como
você é incrível. Está alegre? Tire uma foto sorridente e poste no Instagram. Um
monte de amigos vão comentar como você está radiante e merece toda essa
felicidade. Quer reclamar de um serviço que é falho? Escreva um texto de 140
toques no Twitter e receberá resposta em prontidão.
Mas, vamos para uma reflexão: todos realmente têm o direito de falar o quiser
em seus perfis? Ao postar uma opinião a ideia torna-se pública e já não lhe
pertence mais? Por que não conseguimos respeitar a individualidade do outro?
Uma das diretrizes digitais que se constroem mais por convenção e não uma lei
pré-definida, é que o avatar que criamos para o mundo cibernético não tem
dono, nem regras e está acima dos compromissos mais básicos da sociedade.
Por isso, é comum vermos discussões rasas e ataques de todas as formas:
machistas, homofóbicos, feministas, intolerantes, preconceituosos e burros,
pelos mais variados temas.
Um dos princípios básicos da vida em comunhão com outros seres da mesma
raça (e não estou me referindo a cor de pele, e sim da raça humana) é o respeito.
O meu direito acaba quando o do outro começa. Partindo desse ponto, é claro
que todo mundo tem direito de expressar a sua opinião, da forma que quiser e
onde achar mais adequado mas, em que lugar está definido que na sua postagem
o ataque à maiorias, minorias ou a um simples individuo pode acontecer por
mais que você não concorde com os atos ou ideias proferidos?
Um exemplo: Juliana Reis, de 25 anos, publicou, em sua página no Facebook que,
sem demagogias, não gosta de ser mãe apesar de ter um filho de 2 meses. Que a
gravidez não planejada mudou a sua vida e que não via a felicidade que muitas
mães mostravam em seus posts, numa campanha da rede social. Esta foi a senha
para ataques a sua pessoa, suas crenças e o modo como quer levar sua vida, tanto
que após denúncias, seu perfil foi desativado pelo próprio Facebook.
Vamos raciocinar: concordo com a atitude e pensamento dela? Claro que não.
É meu direito achar até um absurdo o que ela publicou.
Tenho motivo para xingá-la e atacar sua figura? Nunca!
Posso ir atrás dela e criar uma discussão da razão desse pensamento e tentar
mostrar um outro lado da situação? Posso, dentro dos limites da educação, tudo
é livre.
Um exemplo de discussão saudável foi a posição da atriz Fernanda Torres na
semana passada. Através de sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, ela escreveu
suas opiniões sobre o feminismo, a partir de uma visão muito particular, mas que
gerou polêmica com grupos ligados à causa ou não. Suas contas nas redes sociais
foram invadidas pelos mais variados perfis de reclamações e acusações. Ela foi
atacada de forma absurda? Foi. Mas, houve também aqueles que deram uma
oportunidade ao diálogo. Diante destas manifestações, a atriz voltou a se
pronunciar sobre o assunto e pediu desculpas pela sua opinião, que ela mesma
admitiu ser elitista, e se disse aberta para uma nova visão.
Podemos nos comunicar e podemos nos expressar! É ótimo que hajam várias
versões da mesma verdade e que as opiniões gerem discussões que nos façam
pensar mais, interagir mais e evoluir. Só não podemos ser intolerantes a ponto
de haver rupturas quando queremos o mesmo caminho. Senão, entre coxinhas
golpistas e esquerdinhas caviar, vou continuar ignorando muitos amigos no meu
face...