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Palmira Petrocelli

A comunicação em projetos sociais, uma questão de transparência e reconhecimento.


Ainda criança, me lembro de assistir o velho guerreiro nas tardes de sábado e achar engraçada a sua celebre frase: “Quem não se comunica se trumbica”. À época, mal entendia o significado e só muitos anos depois, como estudante de jornalismo, pude pensar sobre o jargão tão usado por Chacrinha, quando participei de uma campanha chamada: comunicação para todos.

O objetivo desta campanha, era atender um cliente e melhorar as estratégias de comunicação em seu negócio. Precisei escolher uma área de trabalho e como minha vocação, desde sempre, foi ligada à área social, optei por buscar uma ONG para a conclusão da tarefa.

O ano era 1996 e a Internet ainda engatinhava no Brasil, quase não tínhamos disponíveis recursos tecnológicos e o Facebook, hoje tão utilizado como meio de comunicação, nem sequer pensava em existir. E lá fui eu, cheia de ideias e entusiasmo à ONG do bairro para entender sobre seus processos comunicacionais.

Os dirigentes da organização me apresentaram quatro projetos incríveis que atendiam cerca de 600 crianças e adolescentes em situação de risco. Atuavam há 10 anos em São Paulo, no bairro da Mooca e seu entorno, e tinham um trabalho bem expressivo junto ao seu público. Relataram as mais diversas dificuldades enfrentadas para manter a ONG em pé e atender com qualidade todos os envolvidos.

Perguntei como divulgavam o trabalho lindo que realizavam:

- Como assim?

- Todo o trabalho da ONG, resultados, ações, projetos, como vocês divulgam? Algum jornal, revista, parceiro dá visibilidade ao trabalho de vocês?

- A gente não divulga.

Achei que meu trabalho acabaria ali, mas ele estava só começando.

Conversamos sobre a importância da visibilidade das ações realizadas, dos objetivos, propósito, causa e o quanto uma boa estratégia de comunicação poderia ser a ponte para a transformação social na comunidade e impactar diretamente na vida do público atendido. Além disso ainda havia a questão da transparência, pois de forma geral, projetos sociais são mantidos com recursos de terceiros: público, de pessoa física, de empresas, editais, enfim, era preciso dar clareza e munir a sociedade, patrocinadores e parceiros de informações sobre as ações dos projetos. Pensamos algumas possibilidades e em pouco tempo a ONG já estava participando de matérias nos jornais e revistas do bairro, eram convidados para eventos, os dirigentes procurados para darem depoimentos, trazendo em suas falas, indicadores de resultados apontando suas realizações. Um sucesso! Passaram da ONG pequena conhecida de boca a boca para uma instituição de credibilidade na comunidade. Um pequeno processo que trouxe benefícios e reconhecimento do trabalho.

Há poucos meses, realizei um estudo sobre o terceiro setor e um dado me chamou muito a atenção, apontando que a maior dificuldade para a efetivação das doações e apoios se dá porque as empresas não compreendem claramente o propósito da organização, pois têm pouca, ou nenhuma, informação sobre o trabalho empreendido. Isso por si só, já mostra a importância da comunicação em projetos sociais, para que a sociedade conheça o que tem sido feito e crie conexão com a causa e com o público.

O caso da ONG do bairro ainda se repete e a frase do Chacrinha continua viva e presente em muitas instituições sociais. Estamos em 2016 e as possibilidades de divulgação se ampliaram de tal forma que não dá para pensar em uma ação sem divulgação. A comunicação foi, e sempre será, o melhor caminho para dar visibilidade e credibilidade a um projeto social, contribuindo nos mais diversos eixos do trabalho da ONG. É imprescindível que as organizações do terceiro setor tenham estratégias de comunicação para a ampliação e reconhecimento de seus trabalhos.

Graduada em Comunicação Social e pós-graduada em Tecnologias na Aprendizagem, Palmira é especialista em projetos sociais.

Com ampla experiência no Terceiro Setor, atua há 15 anos coordenando, repensando e redirecionando projetos nas áreas de educação para leitura e escrita, cultura, educomunicação, proteção de direitos, educação socioambiental e educação à distância. E agora, criou a Dá Liga para compartilhar seu conhecimento e paixão com pequenas e médias organizações sociais.

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Nota: As idéias e opiniões contidas no texto são de responsabilidade do autor, não expressando, necessariamente, os valores e sentimentos da Mazzi Comunicação Integrada.


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