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Família colorida

Como construímos uma percepção de sociedade sem racismo com as crianças a partir da nossa família interracial.




O nosso país não é racista. Calma, essa não é a verdade, mas é uma ideia amplamente difundida há tantos anos que para alguns, que não vivenciam a realidade, pode ter se tornado realidade.


Meus pais são casados há mais de 40 anos. Ela, filha de italianos que imigraram para um país próspero e sem guerra. Ele, negro, do interior de São Paulo, neto de uma mulher nascida no ventre livre. Do casamento, nasceram 3 filhos e o questionamento constante se “eram do mesmo pai”. Os filhos cresceram e casaram, e seguem tendo filhos.


Hoje, somos 12 à espera do 13º membro da família, o Ian nasce no início de setembro. O que temos em comum além dos laços de amor e de sangue? Afinidades, carinho, respeito e características físicas completamente diferentes uns dos outros. Claro, temos traços em comum, mas, somos uma família colorida.


Assim como no nosso núcleo familiar central, as famílias formadas pelos meus irmãos e por mim, seguem sendo coloridas.


Educar crianças em gerações e construções sociais tão diferentes é um desafio. Minha mãe era uma loba defendendo as suas crias das brincadeiras (o bulliyng tinha outro nome naquela época). E muitas cicatrizes dessas brincadeiras são aparentes e sangram até hoje.


Me lembro de histórias das personagens brancas serem lindas. Da cor da pele ser aquela clarinha e dos cabelos bonitos serem lisos.


Enfim, crescemos. Ampliamos as nossas perspectivas de mundo e nos fortalecemos a cada nova gestação. Nos posicionamos. Há quem foi à escola questionar o giz cor da pele. Há quem questionou outros pontos tão fundamentais antirracistas. Mas também há quem passa por cima. E segue.


Hoje, meu filho tem 2 anos. Ele tem pele branca, cabelos claros e cacheados. E para ele não há diferença alguma com relação a cor de pele e cabelo. Ao menos até aqui ele nunca foi questionado, mas todos os dias deixamos claro que as pessoas têm características diferentes e que bom!


A espera do meu caçula, que nascerá no início de setembro, me pego pensando na herança que trago dessa família colorida de origem e do desdobramento dela. O meu papel como mãe e mulher preta na criação de dois meninos, que podem ter características tão diferentes entre eles, é fortalece-los desde a primeira infância para que façam e vivam uma sociedade diferente.


Enaltecer as crianças é fundamental para que se desenvolvam plenamente e se posicionem. E, como mãe, tenho a esperança de que a geração deles será muito melhor do que a nossa.



Marina Franciulli

Mulher preta, de 35 anos. Mãe da Amora (vira-lata e filha mais velha), do Gael, de 2 anos e 8 meses e a espera do Ian. Comunicóloga há cerca de 15 anos e apaixonada por assuntos sociais e relacionados ao bem-comum.


Publicado originalmente pela Revista Pais&Filhos


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