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Você já teve alguma mulher negra como chefe?

Provavelmente a sua reposta será: não.



Se historicamente a possibilidade de isso acontecer sempre foi muito pequena, a pandemia vai dificultar um pouco mais. Isso, porque os impactos da COVID-19 na empregabilidade são tão expressivos que mudaram patamares históricos na taxa de ocupação de mulheres, de pessoas jovens e da população negra, segundo o IPEA.


Das cerca de 9 milhões de pessoas que perderam suas fontes de renda, 6,4 milhões eram pessoas negras.




Boa parte destas mulheres perderam seus empregos porque ficou ainda mais evidente a quantidade de turnos diários delas. São mães, profissionais, “donas de casa” e tantos outros papeis que as empresas não têm a “coragem” de bancar.


Mas, para estreitar um pouco mais esta nossa conversa, vale entendermos o conceito de marcadores sociais de diferenças: um sistema de classificação usado para categorizar indivíduos a partir de tópicos como cor, raça, etnia, orientação sexual e gênero, além de classes sociais e aspectos culturais.


Quanto mais marcadores sociais carregados nesta classificação, maior a interseccionalidade e sua situação de vulnerabilidade, ou seja, de maior risco social, alimentar, econômico, ambiental e outros.


Mas, o que isso tem a ver com a empregabilidade e geração de renda?


É paradoxal sabermos, por dados estatísticos, que a população negra (54%) e feminina (51,5%) do país, embora numericamente maiores e mais expressivas, são tidas como minorizadas.


Se já é difícil encontrar mães e mulheres em cargos de chefia e liderança, ao pensarmos em mães e mulheres negras, esta possibilidade é ainda menor. As mulheres negras recebem, em média, salários 70% menores do que mulheres não racializadas.

E, ao mesmo tempo, as mulheres negras representam 75% das mulheres que chefiam suas famílias, sendo as principais responsáveis pelo maior aporte financeiro de suas casas.


Partindo desta realidade, para muitas das nossas, a única oportunidade é o

empreendedorismo. E se empreender já é difícil e solitário, imagine se você é uma pessoa com tantos marcadores sociais?


Vivenciamos a falta de acesso à capital e investimento, além da dificuldade de transitar por ecossistemas que desenvolvem e aceleram negócios. Somos numericamente menores nestes espaços e essa conta está longe de fechar.


Para que a transformação aconteça, inúmeras iniciativas surgem como forma de estender a mão e as oportunidades para mães e mulheres em situação de vulnerabilidade social. Seja para a capacitação em uma nova profissão digital – em alta no mercado, seja no desenvolvimento de novas habilidades para retorno ao mercado de trabalho, como forma urgente de sustentabilidade de famílias inteiras lideradas por estas mulheres.


Mas, não é possível fazer a mudança sozinha. Destaco, como exemplo, uma capacitação para a profissão de social media que já contemplou mais de 400 mães e mulheres do Brasil, girando mais de R$500 mil reais, mas que ainda têm cerca de 27 mil mulheres esperando pela mesma oportunidade. Desta vez, por falta de recursos financeiros para a ampliação da estrutura projeto.


E é nosso papel, a partir dos lugares que ocupamos e dos privilégios que acumulamos, agir para transformar a realidade das nossas.


O que você tem feito para que mais mães e mulheres possam ocupar os espaços e seguirem abrindo novos caminhos para que as nossas meninas e os nossos meninos possam, enfim, alcançar alguma segurança na jornada da equidade?


Costumo dizer que a diversidade é a nossa realidade, a equidade é a jornada, a partir das escolhas que fazemos e da forma com que aproveitamos os espaços que ocupamos e a inclusão é o nosso pacto social. Somente a partir deste pacto, conseguiremos pensar e construir uma sociedade transformada e justa.


Marina Franciulli é mãe do Gael e do Ian, comunicadora com o propósito de unir ideias e ideais em ações inovadoras para conectar marcas às pessoas, a partir das perspectivas da diversidade, da equidade e da inclusão.


Originalmente publicado pela Revista Pais&Filhos

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